O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) anunciou hoje que vai emprestar um milhão de dólares a produtores independentes de energia de Angola para encorajar o investimento privado em energias renováveis. Que assim seja. Desde que fiem… não faltarão interessados com cobertura oficial.
As verbas do Fundo para a Energia Sustentável em África, gerido pelo BAD, “vão ser usadas para estabelecer um ponto único de implementação dos projectos, favorecendo a criação de um ambiente propício à realização de parcerias público-privadas e aumentar a “bancabilidade” dos projectos”, lê-se na nota divulgada hoje em Abidjan, na sede do BAD.
Para além disso, acrescenta a nota, o empréstimo em condições financeiras vantajosas vai também possibilitar “o aumento da capacitação, ao fornecer assistência técnica para os projectos, implementação e monitorização dos contratos”.
O Governo de Angola, como parte da estratégia de desenvolvimento a longo prazo, quer expandir o acesso à electricidade a 60% da população em 2025, com 70% a vir de energias renováveis, lê-se ainda na nota colocada no site do BAD.
“Este projecto vai permitir e estimular os investimentos dos produtores independentes de energia, e complementa os mil milhões dados ao abrigo do programa de apoio à reforma do sector energético”, disse o vice-presidente do BAD para a Energia, Amadou Hott, citado no comunicado.
De facto, em termos de promessas, o Governo diz que irá, até 2025, produzir 800 megawatts de energia eléctrica a partir de fontes renováveis, com maior predominância nas áreas rurais do país, o que permitirá aumentar de 40% para 60% o total de população com acesso à electricidade.
Segundo a directora nacional de Energias Renováveis do Ministério da Energia e Águas de Angola, Sandra Cristóvão, actualmente só 40% da população angolana, estimada em quase 30 milhões de habitantes, tem acesso a energia eléctrica, 60% oriunda de fontes hídricas e os restantes 40% de origem térmica.
A intenção de incorporar 800 megawatts de energias renováveis até 2025, acrescentou, consta no plano do executivo, sublinhando que a ideia passa por aumentar a capacidade das energias renováveis, para que constituam uma alternativa para o meio rural, tendo em conta também o baixo custo de manutenção.
“Já estão identificadas zonas de potencial eólico do país. Mas, para as zonas rurais de Angola as mais adequadas são as energias solar e a biomassa, esta última por usar resíduos agrícolas, florestais, agro-pecuárias, entre outros para a produção de energia eléctrica”, explicou Sandra Cristóvão.
Em 18 de Fevereiro de 2015, num artigo publicado no Folha 8, o engenheiro Carlos Pinho, docente da FEUP – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, afirmava que Angola tinha à mão de semear alternativas ao petróleo, referindo-se à biomassa.
Segundo Sandra Cristóvão, estão a ser já implementados vários sistemas e captação solares autónomos nalgumas zonas do país, que vão resolvendo “problemas pontuais” com a disponibilização de três a cinco quilowatts.
Para a concretização dos projectos de energias renováveis no país, segundo Sandra Cristóvão, os “constrangimentos” para o sector público prendem-se com a captação de financiamentos, enquanto para os do privado são as tarifas existentes e a falta de uma legislação específica, que ainda está em curso.
Nos países que integram a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), admitiu, Angola é um país com pouco investimento no sector das energias renováveis, situação que, explicou, deve-se ao facto de ser produtor de petróleo e pelas inúmeras bacias hídricas existentes no território nacional.
Sandra Cristóvão discursava sobre o tema “Os Desafios Tecnológicos e a Expansão de Fontes de Energias Renováveis em Angola”, no âmbito do debate “Café com Ciência e Tecnologia”, realizado pelo Centro Tecnológico Nacional (CTN), afecto ao Ministério do Ensino Superior, Ciências, Tecnologia e Inovação (MESCTI).
Em 16 de Dezembro de 2015, 15 instituições, públicas e privadas, criaram a Associação Lusófona de Energias Renováveis (ALER) com o objectivo de promover as energias alternativas nos países de língua portuguesa.
Em comunicado divulgado na altura, a ALER salientava que o objectivo da associação, que iniciou a actividade nesse dia, é o de promover as energias renováveis em “projectos de pequena e grande escala, conferindo-lhe uma dimensão empresarial e social” junto dos cerca de 33 milhões de pessoas que vivem nos países lusófonos e que não têm acesso a electricidade.
Entre as entidades institucionais figuram os ministérios do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia e o do Turismo, de Portugal, e o Governo Regional da ilha do Príncipe, de São Tomé e Príncipe.
“O objectivo é criar uma plataforma de diálogo entre todas as partes interessadas para partilha de informação e experiência, assumindo uma função agregadora e criando assim novas oportunidades de projectos e negócios”, explicou Isabel Cancela de Abreu, directora executiva da ALER.
Fazem parte da comunidade de países de língua portuguesa Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Folha 8 com Lusa